Foto: Divulgação Lei foi aprovada em 2017 e é criticada por entidades de classe |
Rejeitado
pelos fiscais agropecuário estaduais e defendido pelas indústrias, o novo
sistema de inspeção sanitária e industrial de produtos de origem animal começa
a funcionar neste mês em empresas sob fiscalização do Estado. Com o novo
modelo, instituído pela lei n° 15.027, de 2017, o serviço de inspeção deixa de
ser totalmente público dentro dos frigoríficos e, assim como já ocorre em Santa
Catarina e no Paraná, passa a contar com veterinários ligados à iniciativa
privada.
De
acordo com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi), existem
38 vagas que podem ser imediatamente preenchidas por profissionais habilitados.
Vários empresários começaram a negociar a contratação de veterinários com as
credenciadas e um já formalizou pedido ao Estado para migrar da inspeção
pública para a privada.
A
proposta do sistema de inspeção delegada à iniciativa privada começou a
tramitar no Estado em junho do ano passado, quando o então secretário da
Agricultura, Pecuária e Irrigação, Ernani Polo, apresentou uma minuta ao setor
produtivo.
Na
Assembléia Legislativa, o projeto de lei foi aprovado por 34 votos a 15 em
agosto. No dia 22 de dezembro, o Diário Oficial do Estado publicou o decreto de
regulamentação. Uma das principais mudanças geradas pela lei foi a
diferenciação de inspeção e de fiscalização. Antes das novas regras, o serviço
oficial tinha atribuição de inspecionar e fiscalizar os processos industriais.
Agora, o setor privado pode fazer a inspeção permanente dentro das empresas que
abatem animais, enquanto que o Estado, que tem poder de polícia, focará na fiscalização.
Com
exceção da aplicação de autuações, que é papel exclusivo do serviço oficial, o
inspetor privado assumirá os mesmos procedimentos que antes eram executados
pelos fiscais. Entre suas tarefas estão fazer o exame clínico dos animais que
chegarem ao abatedouro e acompanhar todo o procedimento durante e após o abate,
até o encaminhamento das carnes para as câmaras frias, de onde seguirão para a
comercialização. Se constatar irregularidades, o inspetor acionará
imediatamente o fiscal estadual ou, dependendo do caso, repassará os
apontamentos ao servidor público na ocasião da fiscalização à empresa. Caberá
ao agente público, então, analisar o termo de irregularidade e decidir sobre a
aplicação de penalidades cabíveis.
Os
inspetores contrários à mudança argumentam que não há como dissociar a inspeção
da fiscalização, mas a Seapi alega que a inovação está respaldada em
recomendações da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Para o
diretor-geral da Seapi, Antônio Machado de Aguiar, o novo modelo propõe outro
paradigma, já que desde 1996 procedimentos relacionados aos produtos de origem
animal nunca mudaram. Ele lembra, no entanto, que os frigoríficos, se quiserem,
podem optar por continuar sob inspeção do serviço oficial.
A
empresa Compilar Consultoria de Resultados ME, de Venâncio Aires, que foi a
primeira a se credenciar na Seapi como prestadora do serviço, tem pelo menos 10
negociações em andamento com frigoríficos de carne bovina, aves e suínos, e 40
veterinários cadastrados na sua base de dados. Todos possuem mais de 600 horas
de experiência em inspeção, o que já os habilita a começar a atuar nas
indústrias. Segundo o diretor executivo da Compilar, Joel Luiz Martins, o
trabalho destes profissionais será avaliado semanalmente para manter a credibilidade
e a transparência. “Sabemos que tem um segmento contrário às mudanças, mas o
Estado não dá mais conta do recado sozinho”, analisa.
Além
das 38 vagas que já estão à espera de inspetores privados, a Seapi acredita que
o número pode subir se as prefeituras que cedem cerca de 40 profissionais ao
Estado começarem a encerrar os convênios. “O Estado tem quadros escassos e por
isso deu encaminhamento a este assunto com os objetivos de evitar que as
empresas deixem de funcionar por falta de inspeção e de não comprometer a
questão sanitária por falta de fiscalização”, destaca o atual secretário da
Agricultura, Odacir Klein.
Como
uma das tarefas do atual modelo será transferida para os inspetores privados no
novo, a expectativa é que seja reduzido o déficit de funcionários em outras
áreas do serviço, como a própria fiscalização e as vistorias e análises para a
autorização de funcionamento de novas plantas e ampliações industriais. No ano
passado, a Seapi apontava a existência de 32 projetos represados, à espera da
análise da Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal, que estariam
deixando de gerar 450 novos empregos e R$ 19,5 milhões de ICMS ao ano no
Estado.
Aguiar
argumenta que este valor é muito superior aos cerca de R$ 2 milhões que não
entrarão mais nos cofres públicos com o novo modelo, já que parte da taxa de
abate de animais deixará de ser recolhida quando as empresas migrarem para a
inspeção privada.
Apesar
da iminência da operação da nova estrutura, algumas entidades questionam a
credibilidade e a legalidade da proposta. O presidente da Associação dos
Fiscais Estaduais Agropecuários do Estado (Afagro/RS), Antonio Augusto
Medeiros, diz que o novo modelo ainda é “algo incerto para os servidores
públicos” que, no ano passado, não foram ouvidos e que, até agora, não têm
informação sobre como se operacionalizará a fiscalização separada da inspeção.
“Para nós, este modelo é inviável e as preocupações continuam as mesmas de
quando se começou a falar nisso”, critica. “Só grandes empresas vão ter
condições de arcar com esta inspeção, que tem custo elevado. As pequenas, que
são maioria, vão ficar de fora”, acrescenta.
Fonte: Correio do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário