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Doenças já erradicadas no Brasil voltaram a ser motivo de
preocupação entre autoridades sanitárias e profissionais de saúde. Baixas coberturas
vacinais, de acordo com o próprio Ministério da Saúde, acendem "uma luz
vermelha" no País.
O Rio Grande do Sul confirmou seis casos de Sarampo este ano. Em
2016, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) o
certificado de eliminação da circulação do vírus.
Em junho, países do Mercosul fizeram um acordo para evitar a
reintrodução de doenças já eliminadas na região das Américas, incluindo o
sarampo, a poliomielite e a rubéola. Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e
Chile se comprometeram a reforçar ações de saúde nas fronteiras e a fornecer
assistência aos migrantes numa tentativa de manter baixa a transmissão de
casos. No último dia 8, a
Opas enviou alerta aos países após a detecção de um caso da doença na
Venezuela. Dados do governo federal mostram que 312 municípios brasileiros
estão com cobertura vacinal contra pólio abaixo de 50%.
A presidente da entidade, Isabella Ballalai, explicou que uma
série de fatores compromete o sucesso da imunização no País, incluindo a falta
de conhecimento sobre de doenças consideradas erradicadas, a divulgação de fake
news via redes sociais e os horários limitados de funcionamento de postos de
saúde.
Imunização
A dificuldade de imunização no país é multifatorial – depende do
tipo de vacina, da faixa etária em questão, conforme explicou Isabella.
"Entre 20% a 30% dos adolescentes, por exemplo, se vacinaram contra a
meningite. Só. As pessoas não imaginam a dificuldade que é levar um adolescente
a uma sala de vacinação. No geral, o que a gente percebe é que, quando o povo
tem medo da doença, procura a vacina. Brasileiro não tem medo da vacina, tem
medo da doença. E só procura a vacina quando tem surto na televisão",
lamentou.
"Um exemplo foi a epidemia de gripe em 2016. Tínhamos filas
de seis horas em clínicas privadas. A meta de vacinação ficou acima do
necessário, passou de 100%. O que aconteceu com aquele mito de que as pessoas
não se vacinam porque têm medo de pegar gripe? As pessoas tiveram medo da
doença, viram a doença, acreditaram na doença", complementou.
Prevenção
Isabella também alertou que prevenção é uma coisa complicada,
principalmente entre pais de família que não se vacinam. "No tempo em que
usar cinto de segurança não era obrigatório, a pessoa só usava quando perdia
alguém em um acidente de trânsito. É mais ou menos isso que acontece com as
vacinas. E olha que é prevista a obrigatoriedade da imunização no Estatuto da
Criança e do Adolescente. É direito da criança e do adolescente a vacina. Os
pais são provedores, não podem negar esse direito. Mas é complexo",
afirmou.
Outros países também enfrentam dificuldades na imunização. Segundo
ela, a Europa e América do Norte têm problemas graves de cobertura vacinal.
"São taxas que ficam em torno de 30% a 40% do público-alvo. Um problemão.
Quando a gente fala de baixa cobertura vacinal no Brasil, é algo em torno de
70% a 80%. Parece bom quando comparado à realidade de outros países",
disse.
"Mas, para manter as doenças erradicadas, a gente precisa
atingir nossas metas. E, especificamente entre menores de 1 ou 2 anos, a meta é
95% de cobertura vacinal. Funciona assim: tivemos, recentemente, casos de
sarampo em Porto Alegre. Uma jovem não vacinada pegou a doença em Manaus. Se
ela, mesmo não vacinada, tivesse ido a Manaus e encontrado crianças vacinadas,
não teríamos o surto que tivemos no Sul. É o que chamamos de proteção coletiva.
Cobertura vacinal é sinônimo de ação coletiva. E as pessoas estão cada vez mais
individualizadas para se engajar numa ação coletiva", concluiu.
Fonte: Agência Brasil
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