Foto: Divulgação |
Monitoramento inédito identificou 105 espécies de plantas daninhas na cultura do tomate, grau de infestação, frequência e dominância de cada uma delas. O trabalho destaca a Solanum americanum(popularmente conhecida como Maria-pretinha) como a espécie com maior potencial para causar prejuízos à cultura do tomate rasteiro. Ela foi identificada em 87% dos locais pesquisados.
O resultado é de um levantamento fitossociológico de plantas daninhas em áreas de produção de tomate rasteiro nos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Foram analisadas 69 áreas em 24 municípios, que juntos são responsáveis por 98% da produção de tomate para processamento industrial no Brasil.
Prejuízos à cultura do tomate
As plantas daninhas podem causar depreciação na quantidade e na qualidade dos frutos. Algumas vezes, essas espécies podem inviabilizar a lavoura e, por isso, o seu controle é fundamental para manter o potencial produtivo da cultura. O levantamento traz elementos fundamentais, como definição das espécies e frequência de infestação, o que ajuda os produtores na escolha do manejo mais adequado para controlar as plantas daninhas e minimizar os prejuízos causados por elas.
A pesquisadora da Embrapa Hortaliças (DF) Núbia Maria Correia, responsável pelo trabalho, explica que esse levantamento comprova a necessidade de um manejo integrado nas culturas que antecedem o cultivo do tomate. “Em 96% das áreas pesquisadas, a sucessão foi feita com milho ou soja”, informa.
“O manejo de plantas daninhas nas culturas usadas na rotação influencia a dinâmica da infestação no tomateiro. Vimos neste trabalho a soja e o milho atuando como daninhos ao tomate. Nessas situações, eles são conhecidos como plantas voluntárias ou tigueras. Por isso, a necessidade de o produtor ver o sistema de produção como um todo. Pensar de forma isolada faz com que um processo realizado na cultura atual interfira negativamente na próxima cultura. Nas áreas em que a soja antecedeu o plantio do tomate, principalmente em Goiás, há plantas como o capim-amargoso (Digitaria insularis) infestando o tomate”, exemplifica a pesquisadora.
Segundo estimativas da professora Abadia dos Reis Nascimento, da Universidade Federal de Goiás (UFG), e do vice-presidente da Associação Brasileira de Tomate para Processamento (Abratop), Rafael Sant´Ana, a área plantada com tomate para a indústria ocupa no País cerca de 17,6 mil hectares, com uma produção estimada em 1,4 milhão de toneladas ao ano. Os dados são referentes a 2014, mas refletem o cenário atual. De acordo com os estudiosos, entre os problemas que podem afetar a rentabilidade da produção estão pragas e doenças. Como as plantas daninhas atuam como hospedeiras, o manejo dessas espécies pode minimizar os prejuízos.
Manejo integrado de culturas é fundamental
As principais características das plantas daninhas são a grande produção de sementes, dormência e longevidade (a semente está viva, mas não germina, podendo permanecer por anos no solo). O manejo dessas espécies, na cultura anterior ao tomate, tende a diminuir o potencial de germinação e a produção de sementes de plantas daninhas.
A Maria-pretinha é um desses exemplos. O fruto que ela produz tem milhares de sementes e está presente em todas as regiões pesquisadas. Núbia Correia afirma que o manejo dessa planta tem que começar durante a cultura da soja ou do milho, porque existe apenas um herbicida registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a cultura do tomate com ação em plantas de folhas largas, como a Maria-pretinha - e ele não está sendo efetivo para essa espécie, conforme mostra o levantamento. Já para as culturas da soja e do milho existem herbicidas registrados e mais eficazes contra a Maria-pretinha.
Correia reconhece que o manejo integrado pode onerar o sistema de produção no primeiro momento, porém, o produtor precisa avaliar os benefícios. “É necessário pensar que os gastos com a redução de banco de sementes de plantas daninhas no solo é um investimento a médio e longo prazo”, enfatiza.
Prejuízos indiretos das plantas daninhas
O levantamento mostrou que, além do manejo químico, os produtores geralmente precisam fazer a catação, aumentando o custo de produção com mão de obra. A pesquisadora chama a atenção ainda para os prejuízos indiretos provocados pela estrutura das plantas daninhas. “Algumas espécies formam uma parte aérea densa que funciona como um guarda-chuva, impedindo que o jato da aplicação de inseticidas e fungicidas atinja a praga ou a doença instaladas no tomateiro”, explica.
Outro ponto que dificulta o controle das plantas daninhas é a percepção equivocada que o produtor tem em relação às espécies existentes em sua área. “Um produtor me disse que tinha duas ou três espécies de plantas daninhas e, após a avaliação, eu verifiquei cerca de 30 espécies”, conta a pesquisadora, acrescentando que, nesses casos, a percepção é bem diferente da situação real que se observa no campo.
Pesquisas testam herbicida eficiente contra a Maria-pretinha
Desde a coleta de dados para a consolidação do Levantamento Fitossociológico de Plantas Daninhas em Áreas de Produção de Tomate Rasteiro dos Estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, em 2014, a pesquisadora Núbia Correia vem testando um herbicida, já registrado no Ministério da Agricultura para outra cultura olerícola, que tem apresentado potencial para o tomate destinado à indústria.
Os testes ocorreram em casa de vegetação. “Comecei esse trabalho depois que constatei a grande incidência da Maria-pretinha na cultura do tomate e realizei alguns estudos para selecionar herbicidas com potencial para o controle”, explica, acrescentando que esse produto atende a duas questões: controla a planta daninha e não prejudica a cultura do tomateiro, mesmo aplicando sobre as plantas.
O próximo passo é testar esse herbicida em área de produção comercial, com o registro especial temporário (RET automático) fornecido pelo Mapa. É preciso ampliar as pesquisas para o campo e verificar o desempenho desse herbicida.
Vídeo: O Conexão Ciência conversa com a pesquisadora da Embrapa Nubia Correia para abordar as plantas daninhas, conhecidas por causar mais danos do que benefícios.
Plantio direto reduz infestação em 86%
O controle químico é a principal estratégia de manejo das plantas daninhas nas culturas agrícolas, mas existem práticas conservacionistas como o plantio direto que mantêm a cobertura morta na terra e não revolve o solo. A Embrapa Hortaliças conduziu uma pesquisa sobre o manejo de plantas daninhas na cultura do tomate rasteiro sob o plantio direto com palha de milho e a influência na produtividade da cultura. O trabalho comparativo com o plantio convencional apresentou dados promissores com relação à emergência de plantas daninhas e não houve prejuízo à produção.
“Houve redução de 86% na infestação de plantas daninhas comparado com o plantio convencional, o que ocasionou menor aplicação de herbicidas. O plantio direto também resultou em produtividade comercial de frutos similar ao sistema de preparo convencional”, ressalta Núbia Correia. Durante a condução da área de plantio direto foi realizada uma única aplicação do herbicida metribuzin para manutenção do controle e não houve aplicação de graminicida. Já no sistema de plantio convencional houve necessidade de duas aplicações de metribuzin e duas de graminicida (cletodim e quizalofop-pethyl).
Os trabalhos foram realizados no período de novembro de 2016 a setembro de 2017 no campo experimental da Embrapa Hortaliças, na área rural do Gama (DF). O uso da palhada do milho como cobertura morta foi adotado porque, além da quantidade e da qualidade do material, essa cultura é comum no sistema de rotação com o tomate rasteiro. Mais de 50% das áreas de tomateiro são ocupadas anteriormente por milho, conforme demonstrou o levantamento fitossociológico.
A pesquisadora ressalta que a eficácia da palhada do milho no controle de plantas daninhas depende do tipo e da quantidade de material colocado no solo e da espécie de planta daninha, que pode ser afetada ou não pela cobertura morta. “Dependendo da espécie, a palhada pode estimular a germinação das sementes, decorrente da quebra da dormência”, reforça a pesquisadora. Ela acrescenta, no entanto, que existem outros estudos com hortaliças, como o melão, que comprovam os benefícios da palha no manejo de plantas daninhas.
Raio-X das áreas produtoras de tomate
O trabalho foi realizado em 69 áreas de produção comercial de tomate rasteiro, sendo 67 pivôs e duas áreas de gotejamento, com tamanhos variáveis entre 20 e 150 hectares. As áreas foram definidas em função da colheita do tomateiro, que é mais concentrada no período de julho a setembro.
Durante a coleta de dados, os produtores foram questionados sobre culturas utilizadas na rotação, transplante de mudas, espaçamento, tipos de cultivar, herbicidas usados na cultura, assim como as dosagens e pulverizações antes e após o transplante das mudas. Essas e outras informações possibilitaram a caracterização das áreas de produção de tomate industrial pesquisadas.
Foram encontradas 26 cultivares de tomate, o que indica grande diversidade de materiais genéticos. Destaque para dez cultivares, que juntas representam mais de 76% da área amostrada de tomate rasteiro nos três estados avaliados. Das 105 espécies de plantas daninhas encontradas, 99 eram verdadeiras e seis provenientes de restos culturais de feijão, milho, soja, sorgo granífero, tomate, trigo e milheto infestando a cultura do tomate rasteiro, distribuídas em 72 gêneros e 23 famílias.
Existem plantas boas ou ruins?
Mesmo quando se trata das plantas daninhas, a denominação sobre boa ou ruim vai depender do contexto em que essas espécies estão inseridas. A denominação vem do aspecto agronômico porque, biologicamente, a planta não é boa ou ruim. O capim-braquiária, por exemplo, é uma forrageira usada para pastagem, mas em contrapartida é considerado daninha se estiver em uma cultura agrícola, como soja ou tomate.
|
Divulgação: São Lourenço Rural
Fonte: Embrapa
Nenhum comentário:
Postar um comentário